terça-feira, 2 de junho de 2009

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu

Fernando Pessoa

3 comentários:

Lua disse...

Temos milhões de almas, e cada umas
delas nos manda para lados diferentes, então tiro a conclusão de que devemos ir para todos eles...
hehehehehe

bjo da amiga gabi!

Jorcenita disse...

"Não sei quantas almas tenho, cada momento mudei"
...
Nem eu.

Jorcenita disse...

É isso aí Luaaaa, sem medo de ser feliz com todos eles....hehehehe