sábado, 29 de agosto de 2009

Sem você

Resolvi escrever um post triste, mas logo mudei de ideia.
A decisão foi muito simples, pois a pessoa a quem a postagem se dedica era muito alegre.
Quero que vocês conheçam esse lado dele.
Ele foi alguém com o qual compartilhei muitos bons momentos na minha vida, afinal, foi ele um dos responsáveis por eu estar nesse mundo.
Tinha o cabelo bem pretinho e liso, olhos grandes - que herdei -, um bigode que escondia seus lábios bem fininhos, dentes miúdos e com o tempo adquiriu uma considerável barriguinha.
Mas para mim continuava lindo! Meu pai, meu herói, meu amigo!
Nas férias, eu contava os dias para nosso reencontro já com as malas prontas. E logo ele chegava meu mundo se transformava. Íamos os dois "pegar" a estrada, muitas vezes sem destino definido, escutando as músicas sertanejas que tanto ele adorava. Quantas foram as vezes que cantamos juntos, brincando de primeira e segunda voz e quantas vezes erramos as letras e o riso se tornava incontrolável.
Até mesmo quando mentiu para mim, eu o amei. Pois a mentira foi para demonstrar o seu amor. Sim, eu acreditei. Acreditei ser a "coisinha tão bonitinha do pai", que ele disse ter mandado compor para mim.
Confesso que quase "gastei" a música, colocava a fita no rádio, dançava e cantava a música que meu pai fez para mim e pobre mãe que aguentou...
Sempre fui sua parceira e cúmplice. Sábado era o nosso dia, mamãe me arrumava e eu o aguardava para juntos andarmos por aí. No retorno, para dona Valéria, não ficar tão chateada, trazíamos um bolo, um pastel murcho e nossos rostos com sorrisos enormes, felizes pelas horas passadas juntos.
Hoje é sábado, seria nosso dia, mas infelizmente você não vem me buscar Pai...
Quis o destino que você partisse bem cedo e deixasse comigo somente as lembranças.
Errar, errou muito...mas nada nem ninguém consegue arrancar de mim esse sentimento nobre, que aprendi com você.
Se fecho os olhos ouço sua voz dizendo: - Oh minha filha como você tá? Namorando muito? - para logo depois soltar a sua gargalhada.
Hoje diferentemente dos primeiros meses, já não espero mais o telefone tocar, acreditando que sua partida teria sido um engano. Hoje tenho comigo a certeza de reencontrar você um dia!
Eu ainda choro e digo que mente quem diz que com tempo passa, não, não passa!
O tempo ameniza, mas esquecer você não esquece. Sem contar os inúmeros sonhos que eu compartilhava com você e agora você não está presente para vê-los tornaram-se realidade.
Eu te amo, sinto sua falta e onde estiver sempre olhe por mim, porque eu preciso muito de você.
Eu to chorando e rindo, porque fico lembrando que a mãe sempre diz que sou igual a você, uma manteiga derretida.
Sou derretida mesmo, sou "zoiuda" como você, nariz batatudo igual e tenho o carocinho na orelha, nossa marca registrada.
São 4 anos de saudade, de lembranças, de carinho, de espera, de tristeza e alegria.
Pai ainda bem que sempre te disse o quanto te queria tão bem, o quanto eu te amava e ainda amo. Descanse em paz...

4 comentários:

Alexandre Correia disse...

Olá Aline,

Sabe, deixou-me emocionado com essa carta para o seu Pai. Aqui longe, em Lisboa, no meu escritório, lembrou-me meu Pai, que também já partiu, que também foi meu herói e que se tornou um grande amigo. Era o meu maior conselheiro. Suas palavras sempre me ajudaram muito, sempre me motivaram muito. Desde que partiu, esse lugar ficou vazio. É insubstituível. Mas, tal como diz do seu, o meu Pai também fez muitas asneiras. Tantas que eu me senti obrigado a fazer o que nenhum dos meus irmãos teve coragem de fazer, que foi separá-lo da minha mãe. Com isso, ambos ganharam finalmente paz e todos nós. Despertou-me uma saudade enorme e abriu-me deliciosas memórias. Tão boas como as que partilhou comigo nesse seu texto.

Um beijo,

Alexandre Correia

Aline disse...

Alexandre, fico imensamente feliz quando por aqui me visitas. Também me acode uma pontinha de insegurança, já que sei de meus erros...mas ler suas palavras sempre me fzaem pensar, e, é isso que acredito que as pessoas precisam PENSAR!!! Realmente é insubstituível e assim como o seu, o meu também ganhou mundo longe de mamãe e meus irmãos.
Grata por sempre te ver por aqui.

Alexandre Correia disse...

Aline,

Voltei aqui só para dizer duas coisas: depois da sua resposta, sentia-me envergonhado de não ter-me tornado já seguidor do seu blog. Agora que já sou, pode ter a certeza que não perdemos contacto. E saiba também que fiquei aqui, com os olhos meio húmidos, a lembrar o meu Pai e a imaginá-la a recordar o seu. Sinto saudade mas aproveitei muito bem todos os momentos que vivemos juntos. E esses já ninguém mos tira.

Um beijo,

Alexandre Correia

Simone disse...

Line Linão, queridona do meu coração...um verso para combinar com as tuas lindas palavras. Fiquei com os olhos marejados, como o amigo lusitano. Acho que eu já te disse isso, mas vale a pena repetir...Saudade, é o amor que fica!

abraços, Si